quinta-feira, 13 de maio de 2010

Quando eu descobri que ele já estava se descobrindo....

Dos muitos casos que tenho pra contar, vou tentar me lembrar em ordem dos acontecimentos, embora eu ache bem difícil... Mas, vou tentar.

Até ele completar dois anos tudo foi normal e tranqüilo, ele fazia coisinhas engraçadinhas de bebê, mas percebi que meu filhote era perspicaz num episódio que não gosto muito de me lembrar, mas vou escrever só pra registrar...

Quando ele nasceu, ele tinha um testículo retraído e os médicos acharam melhor fazer uma micro-cirurgia antes dos dois anos e meio para corrigir e colocar a “bolinha” no lugar. Depois de consultar algumas opiniões, de pediatra, urologista, mais pediatra, mais urologista e ler sobre o assunto na internet de “cabo a rabo”, decidi que realmente era necessário esse procedimento.

No dia marcado eu estava agoniada, fomos para o hospital, dei entrada no quarto, fiz tudo o que precisava com o coração na mão e juntinho com meu filho, foi então que a enfermeira me disse que ia levá-lo para a sala de cirurgia, eu pedi pra ir junto, mas não foi possível. Entreguei meu filho no colo daquela moça, que eu nem conhecia. Ele chorava muito e me chama, a cada passo que ela dava a voz dele ficava mais longe, a minha vontade era tirar meu filho do colo daquela moça e sair correndo daquele lugar, mas minha razão falou mais alto .... É necessário.

O médico veio falar comigo, me disse que o procedimento seria rápido e tranqüilo e que durariam uns 30 minutos... UMA HORA E MEIA depois, NADA do meu filho e de ninguém pra me dar uma noticia; a coitada da moça da recepção já não me agüentava mais pedindo informação, eu estava quase “enfartando” quando a enfermeira me chamou, ela estava com meu filho nos braços, com aquela roupinha azul de hospital, manchada de sangue, meio dopado pela anestesia e ele me olhou com um olhar triste e uma voz mais triste ainda e me disse: mãe rancalo meu pilu (arrancaram meu piru), meu Deus, foi um dos dias mais marcantes da minha vida, fiquei imaginando aquele bebê, com um monte de gente estranha e ninguém se importou em explicar pra ele o que iria acontecer. Tudo bem! ele tinha dois anos, ... enfim, mais do que depressa peguei ele no colo levei pro quarto abri aquele jalequinho que ele vestia, coloquei a mãozinha dele no piru e disse: não arrancaram não meu amor... só consertaram... então eu vi o sorriso mais aliviado que alguém poderia sorrir pra mim na vida e tive certeza que meu filho sabia e percebia mais do que eu podia imaginar com apenas dois anos de idade.

de repente um bebê...

... Depois do susto que passei com a gravidez, os nove meses voaram e foi numa linda manhã de verão, mês de fevereiro, que meu médico Dr. Mauricio, marcou minha cesárea; “Na verdade eu queria muito um parto normal, muito mesmo, mas meu filho nem pensava em fazer algum tipo de força pra nascer, quem o conhece vai entender bem o que estou sugerindo, mas pra quem não conhece, vou explicar : ele é um sossego em pessoa”.

Dei entrada no hospital Sírio Libanês dia 12 de Fevereiro de 2000 (sempre achei linda essa data) às 07:45 horas da manhã e por volta das 09:15 horas da manhã (+-) acordei no corredor do hospital com uma enfermeira me chamando para me levar de volta pro quarto, eu cheguei a ver rapidamente o bebê durante a cirurgia, mas foi muito rápido porque apaguei com a anestesia.

Eu já estava no quarto quando a enfermeira me trouxe aquela coisinha, ele era tão pequenininho, perfeito (tudo bem que tinha cabeça grande e orelhão, fiquei até aliviada por não ter tido parto normal rsrsrsr), mas mesmo assim ele era lindo.
Depois que analisei todos os detalhes a primeira coisa que me veio à cabeça foi: O que é que eu vou fazer com isso Meu Deus? Que responsabilidade! Chorei sem parar por umas 3 horas olhando aquele bebê, ninguém entendia porque eu chorava tanto, na verdade nem eu, simplesmente chorei.

Muitos sentimentos que eu não conhecia nasceram junto com ele naquela maternidade, um agridoce de emoção misturado com paixão e com um toque insuportável de medo, um medo absurdo e súbito caiu sobre mim e sinceramente nunca mais saiu, medo do presente, medo do futuro, medo de alguma coisa acontecer com aquele pingo de gente, medo de fracassar como mãe, medo de gripe, medo febre, medo de tudo que poderia supostamente acontecer com meu frágil bebê, pois é, e é disso que vou falar nesse blog, desses sentimentos que me sufocam e me fazem sufocar meu filho, esses sentimentos que me tornaram essa mãe que sou hoje às vezes boba, às vezes temperamental, às vezes vazia, às vezes plena e muitas vezes louca.